Sobre flores e amores
domingo, 28 de fevereiro de 2010
 
Ainda não sei se foi sonho ou pura sorte!
Nada de extraordinário aconteceu, mas amei a festa, simplesmente.
Jason não ficou longe de mim por um segundo que fosse, disse que não permitiria que eu ficasse deslocada.
Quando me viu chegando, foi apressado me receber. Falou que eu estava muito bonita.
Foi um perfeito cavalheiro, me apresentou a todos, falou de como nos damos bem e disse várias vezes que sou muito inteligente. Foi uma noite incrível.
Além disso, a música alta, o fazia chegar muito perto de mim quando queria dizer algo, sabe? Quase que não me seguro. É muito difícil ver lábios tão bonitos a tão curta distância dos seus e não fazer nada...
A única coisa que me incomodou foi aquela ruiva estranha nos observando a cada passo que dávamos.
Aliás, me lembrando agora, foi a única a quem Jason não me apresentou. Aí tem, hein?
Bom, sei lá. Estou muito, mas muito feliz mesmo.
E amanhã é segunda, vamos ver como as coisas caminham...

Jenny

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sábado, 27 de fevereiro de 2010
 
Sábado.
Dia da festa.
E agora? Sabe quando as roupas do armário não são suficientemente boas, a maquiagem fica péssima e o cabelo armado?
Estou assim.

Decidi ir sozinha, enfrentar a mim mesma e minha vergonha.

Tirei os óculos, me vesti com jeans e uma blusa preta simples, rabo-de-cavalo, um salto não tão alto e vou usar quase nada no rosto. Vou me sentir mais à vontade assim.

Hoje Jason me ligou pra saber se eu realmente iria.
Disse que sim, e assumi estar ansiosa.

Nunca na vida me senti tão insegura.

Jenny

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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
 
"Não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue." Clarisse Lispector tinha mesmo razão, não existe verdade maior.
Fiquei o dia todo esperando meu ramal tocar. O dia todinho mesmo. Quando eu finalmente desisti, já estava no caminho pra casa, foi que meu celular tocou!
Pra minha enorme surpresa, desta vez era mesmo ele! Jason me ligando, era algo que eu já tinha desistido de ver um dia.
Me disse que pensou em mim o dia todo, que quis dar um toque lá no escritório mesmo, mas que não deu tempo. Queria ter me falado da tal festa beneficente. Foi mesmo puro sonho acha que tivesse simplesmente pensado em mim. Mas tudo bem, me conformo. Pelo menos lembrou.
Falou que o evento será neste sábado, que o convite já está com ele, caso eu realmente queira ir, pelo valor simbólico de duas pratas.
Claro que eu quero, como não? Mais uma oportunidade de ver aquele sorriso de tirar o fôlego... Só estou em dúvida se compro um ou dois, afinal, tenho receio de me sentir deslocada, sabe? Não conheço ninguém por lá. Amanhã vejo isso com ele, pergunto se posso levar alguém comigo.
Tenho me sentido estranha com tudo isso. Gosto de Jason, na verdade, sou apaixonada por ele. Adoro sua companhia, nossas conversas e cada momento "nosso". E ao mesmo tempo em que adoro essa aproximação, tenho medo de que ele só me veja como uma boa amiga pra sempre. Imagina só, se de repente o vejo com outra! O mundo desaba.
Nunca alimentei nenhum tipo de esperança em relação a ele, mas agora é diferente.
Jason tem um poder mágico de me tirar do eixo. Quando estamos juntos, sei lá, minhas orelhas atraem os cantos da minha boca, e o sorriso besta fica aqui no meu rosto, não sai mais. Na verdade, só de me lembrar de situações, isso já acontece.
Nunca me senti dessa forma, chego a estranhar.
Me dá uma saudade quase dolorida de algo que nunca vivemos. Como se os abraços e carinhos que nunca trocamos, me fizessem uma falta gigante.
Essa ansiedade me mata. Não vejo a hora de começar o final de semana!

Jenny

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sábado, 20 de fevereiro de 2010
 
Não aguento mais o fim de semana!
Quando é que isso vai acabar?
Passei o sábado todo assistindo alguma coisa na televisão, mas sequer conseguia prestar atenção. Me entupi de biscoitos de polvilho e refrigerante, vou ficar uma baleia!
Jason me faz falta durante o dia. Nas duas últimas semanas, nos aproximamos mais. Temos conversado muito, sobre várias coisas, de filmes que gostamos até o prato preferido de cada um pra um jantar em família.
Tenho me sentido muito mais próxima dele, sabe?
E agora, que finalmente consegui essa aproximação, os fins de semana parecem nunca ter fim.
A parte boa é que já não fico tão idiota quando ele está perto, só minhas mãos é que tremem um pouco, mas nada que não dê pra disfarçar.
Ontem trocamos telefones, ele me contou sobre um evento beneficente que o pessoal do bairro dele vai promover por esses dias. Pedi que me avisasse.
Até a caridade me ajuda nessas horas!
A parte ruim é que minha ansiedade vem me consumindo, toda hora que o telefone toca, acho que é Jason do outro lado da linha. Agora há pouco, quis atender com a voz sexy, jurando que era ele. Que nada, era só uma gravação da companhia telefônica querendo me vender planos de internet.
Olha só pra esse relógio! Ainda são dez e meia da noite, os ponteiros simplesmente não se movem!
Acho que vou dormir, não vejo a hora deste dia acabar. E tomara que o domingo passe muito rápido.
Nunca esperei tanto por uma segunda-feira.

Jenny

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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
 
Tenho medo disso.
Odeio perder o controle e não saber mais onde as coisas vão acabar.
Sentimentos não são bons por causa disso, não dá pra controlar!
Sei lá, faço de tudo pra chamar a atenção, só me atrapalho, caio, bato a cabeça e pago de idiota.
Já faz quanto tempo que eu estou na academia? Dois meses? Algo por aí. Perdi uns poucos quilos, minhas pernas engrossaram um pouco e minha barriga está sumindo, bem devagar, mas está.
Liguei no ramal de Jason hoje de tarde, meu coração não parava de pular, se pudesse, tinha saído pela boca pra depois ter um enfarte fulminante, se debatendo no chão.
Me deu vontade de ouvir a voz dele, sei lá.
Foi bom! Ele ria comigo, parecia feliz por estar conversando.
Pena que só me vê como alguém bacana e nada além.

Jenny

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
 
", valeu aí, cara".
Não sei se choro ou se fico com raiva!
Depois de tentar ser a pessoa mais fofa do mundo, deixar um bombom com um recado de bom dia na mesa dele, esperar meu ramal tocar ANSIOSAMENTE por vários minutos, e foi só o que ganhei.
Tudo bem que homens muitas vezes não sabem demonstrar afeto, mas isso já foi demais!
Não sei se aguento tamanha indiferença.
Por que comigo? POR QUÊ?
Deus, tenho sido boa menina, respeito meus pais, não sou de gandaia, pago minhas contas, ajudo as crianças carentes. O que foi que eu fiz de errado?
Nasci gorda! Só pode.
Um dia ele vai me notar.
Amanhã mesmo começo a frequentar a academia e a ter uma alimentação saudável.
Se em seis meses Jason não me notar, eu desisto.

Jenny

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sábado, 13 de fevereiro de 2010
 
Acho que estou de TPM.
Não fiz nada de errado no trabalho, sequer abri a boca, o que me evitou falar qualquer besteira enorme, e também não vi Jason, o que quer dizer que meu coração não disparou e minhas mãos não suaram frio.
Chorei ao final de um desenho que assisti na televisão agora mesmo, me acabei com o pote de sorvete de flocos nas mãos.
Com o calor que está fazendo, eu devia encher a banheira com milk shake sabor creme e me enfiar lá até dormir, ouvindo alguma musiquinha romântica.
Mas já tomei um banho frio, o que além de refrescar e aliviar o calor, me fez perder qualquer sinal de sono.
Amanhã é sábado, terça é feriado e na segunda também não trabalharemos.
CINCO longos dias sem Jason, sem vê-lo. Como é que uma mulher pode aguentar uma coisa dessas?
Se bem que, do jeito que a coisa está, se o visse, ao invés de tremer, ia chorar.
Onde será que passará o feriado? Decerto com amigos, como todo cara popular normal, em alguma praia linda e cheia de bundas enormes passando por seus narizes.
Se for isso mesmo, aposto como o idiota do Wes estará lá, incentivando-o a correr atrás do primeiro fio dental que aparecer.
Wes é um tarado. Acho que todo cara muito lindo e com tanto charme social quanto Jason, tem um amigo assim. Por sorte não é influenciável.
Isso pareceria filme: a menina tímida e o cara que todas querem. A diferença é que a mocinha não é gorda e feia, ela só usa óculos e roupas masculinas.
Filme, filme, filme... Às vezes sinto que tento levar minha vida como se fosse um. Como se eu fosse uma romântica sonhadora, que não sabe fazer a própria história e por isso tenta roubar as inventadas por outros.
O sono está chegando novamente, preciso parar de pensar e cair nos sonhos. Quem sabe assim vou à praia e encontro Jason lá, me declaro e tomo um fora logo, pra parar de ser boba.
Acho que hoje estou meio depressiva, né?

Jenny

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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
 
Hoje demitiram a Carol.
Não sei se fico feliz ou triste. Era muito claro que ela nunca gostou de mim, mas fiquei com pena do seu choro descontrolado.
A gente conta com o dinheiro no fim do mês pra pagar nossas contas, fazemos dívidas contando com o salário que vamos receber.
Bem me lembro de como é ruim ficar sem saber o que vai acontecer amanhã.
Graças a Deus é que tenho meu emprego.
Acho que a saída de Carol foi um gás, um combustível pra que eu me esforce cada vez mais, vou tentar não deixar a peteca cair.
A chefe dela alegou redução no quadro de funcionários, mas duvido um pouco.
O beijão que deu em Sam no outro dia pegou muito mal. Não sei se tem a ver, mas cuidado com a reputação é sempre bom, afinal.
Mas esse negócio de pessoas sendo mandadas embora sempre me deixa meio "sei lá".
Mesmo que ela não gostasse de mim, me senti meio estranha quando passou pela porta, com aquele ar de orgulho. Pensei em me despedir, e até cheguei a esticar a mão, pra cumprimentá-la, mesmo. Mas fiquei no vácuo da mãozinha.
Que é que há com ela? Mesmo nessas horas se recusa a perder a pose.
Por esse lado, prefiro meu jeito de babaca tímida.
Falando em babaca, olha só a novidade do século: Jason não só me cumprimentou com um beijo no rosto, como também me deu um abraço!
Claro que não foi um abraço de urso polar, estava mais pra ursinho de pelúcia... Mas mesmo assim, foi fantástico!
Até o sol que se escondia atrás de umas nuvens, apareceu coincidentemente nesse exato momento. Acho que também ficou curioso com aquela cena, nem eu mesma acreditava.
Depois do super abraço esmagador, me perguntou como eu estava, se tinha me recuperado do tombo de uns dias atrás.
Respondi que sim, mas as palavras me escaparam e acabei dizendo que a vergonha que eu sentia dele, quase me fazia sair correndo e repetir o espetáculo.
Ele deu uma gargalhada, e eu sorri meio insegura. Não sabia se ria de mim ou comigo. E há uma enorme diferença entre uma coisa e outra.
Mais tarde, nos encontramos no cantinho do café, o lugar do meu desastre.
Minhas mãos tremiam tanto que quase que derrubo tudo de novo.
Jason chegou sorrindo, muito simpático, perguntou como andava a vida e o namoro. Respondi que tudo bem, mas que tinha terminado com aquele otário do nerd, porque ninguém merece ficar pra trás de um computador. E perguntei sobre ele.
Riu novamente, e mais uma vez me deixava sem graça, não sabia se parecia uma idiota falando aquelas coisas. Depois, respondeu educadamente, falando que seu namoro também havia terminado há pouquíssimo tempo, porque a ex alegou que não gostava mais dele, que iria se casar com outro em poucas semanas!
Que lagartixa não tem cor, eu sabia, mas que não tem cérebro foi uma descoberta totalmente nova! Como é que larga um cara como Jason, e ainda dessa maneira?
A melhor parte disso, foi que ele se abriu um pouquinho comigo, contou que estava triste, mas que achava que logo passaria. Ao dizer isso, seus olhos encontraram os meus e quase desmaiei.
E foi só. Acabamos o café e voltamos para nossos postos.
Foi a última vez que o vi.

Jenny

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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
 
Hoje Jason me perguntou se eu namorava mesmo o idiota do setor de informática como haviam dito a ele.
É claro que eu disse que sim. E fiz isso na esperança de que sentisse alguma ponta de ciúme.
Resultado? Nenhum. Só perguntou se fazia tempo.
Totalmente indiferente!
Claro que ele não sentiria ciúme de uma gorda estranha, ? Com aquela namorada bombadinha e sem celulite...
Mas tudo bem, pelo menos por alguns minutos pude imaginar como seria se ele se incomodasse com o "namoro".
O maior problema foi que outras pessoas ouviram minha confissão e correram para a sala dos computadores. Sabe o que? O idiota veio tirar satisfações.
Tive que dar uma desculpinha esfarrapada pra me livrar dele, disse que deviam ter entendido errado. Mas o pior de tudo MESMO, foi que o cara resolveu tentar me agarrar! Levou a sério, achou que eu tinha vergonha de contar que o amava, VÊ SE PODE!
Todo nerd é carente e chato, e ele não podia ser diferente. Até com a jamanta aqui, ele tinha que tentar se dar bem. Será que eu tenho cara de entrada USB, que qualquer cabinho encaixa?
Vulgaridades à parte, usei o acontecimento do outro dia a meu favor, joguei o café na cara dele!
Foi uma pena que ele também não tenha caído como uma jaca e se quebrado todo!
Morri de raiva.
Odeio caras perdedores, mesmo que se pareçam comigo em muitas coisas (como no simples fato de serem perdedores).

Jenny

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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
 
Pela primeira vez em alguns meses, a sala não brilhou quando o vi chegar.
Acho que senti falta daquele sorriso.
Não sei o que aconteceu, mas fiquei preocupada. O problema é ter vergonha de chegar e perguntar, saber se posso ajudar, sabe?
Jason sempre sorri. Sempre. Algo aconteceu, tenho certeza.

Jenny

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
 
Sei lá, deve ser imaginação minha, mas hoje senti que Jason me olhou com certo carinho.
Bem que podia ser verdade, e não mera ilusão dessa minha cabeça vazia.
Voltei a usar minhas roupas de todos os dias, meu rabo-de-cavalo estava caindo e a maquiagem foi toda lavada com aquele sabonete de aveia que comprei outro dia.
Hoje cheguei uns 10 minutos atrasada ao escritório, por causa do trânsito do centro da cidade, nem vi quando ele chegou.
Mas, para a minha surpresa, quando fui tomar um café para esfriar a cabeça, relaxar de todo aquele tormento e todo aquele caos nas ruas, eis que surge a criatura mais bonita que Deus foi capaz de inventar.
E aquele sorriso... Ah! Me arrepio apenas por lembrar.
Sorriu e me desejou bom dia. E ainda comentou "se atrasou hoje?". Tinha que ser comigo, ? No único dia em que chego poucos minutos mais tarde, JUSTAMENTE NESTE DIA é que ele repara em mim.
Comentei qualquer bobagem sobre o engarrafamento, já nem me lembro mais. Esqueço de tudo, absolutamente, quando ele passa.
E pra ajudar, ainda derramei café na roupa! Ele deve ter me achado uma idiota, soltou uma risadinha que só pode ter sido de deboche. Até eu teria rido se uma idiota derrubasse café na própria roupa, só para gesticular enquanto fala do trânsito!
Fiquei com o rosto totalmente vermelho, queimava mais que o café fervendo no meu umbigo.
Saí apressada para ir ao banheiro passar uma água, para a mancha não ficar ali na roupa. Mas desgraça pouca não existe. Tropecei.
Meu salto ficou preso no vão do elevador.
Jason correu para me socorrer. Caí parecendo uma galinha manca e ainda bati a cabeça no piso, deve ter pensando que me machuquei seriamente. E acho que preferia ter desmaiado a passar todo aquele vexame.
Mas tudo bem, lá veio ele, como um mocinho desses romances de adolescente, para salvar a menina boba, e aí eles se beijam e descobrem que se amam.
Errado.
Me pegou no colo, com cuidado para não me machucar, exatamente como o mocinho faria, me levou à enfermaria e a enfermeira não estava lá, para a minha sorte. Até aí, tudo certo, podia mesmo ter acontecido uma cena linda de romance. Foram rápidos minutos, nos quais pude imaginar mil coisas, desde Jason dizendo o quanto me amava, até ele trancando a sala e arrancando toda a minha roupa ali mesmo.
A enfermeira chegou, deu uma olhada no meu tornozelo, fez uns exames rápidos e me liberou. Apenas disse para que eu colocasse um pouco de gelo na testa, para que não inchasse.
Jason não teve dúvidas, realmente se preocupou e correu para a cozinha, pegou umas pedras de gelo e colocou em um saquinho plástico.
Me lembro com detalhes daquela cena: ele caminhava até a cadeira onde eu estava, com um ar de preocupação. Sorriu muito doce, e perguntou se estava doendo. Segurou o gelo na minha testa por alguns segundos, até que eu me tocasse de que deveria fazê-lo.
Me disse para ter mais cuidado, para não ficar nervosa com o trânsito.
Aí seu celular tocou e ele saiu. Foram os melhores 40 e poucos minutos da minha vida.
Ao fim da tarde, quando saía do escritório, reforçou o conselho de precaução e calma. Sorriu.
Meu dia tinha tudo para ser um inferno, mas acho que minha cabeça nunca esteve em tão bom estado.
Espero que na próxima, tenha algo de bom a mostrar.

Jenny

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domingo, 7 de fevereiro de 2010
 
Você já sentiu como se o tempo parasse, como se só você e ele pudessem se mover?
E quando isso aconteceu, já quis que ele viesse até você e te dissesse que foi tudo um enorme engano, que largou daquela lagartixa da namorada, e descobriu que você é o grande amor da vida dele?
Pois é. Me sinto assim todos os dias quando chego naquele escritório.
Jason passa por mim, diz bom dia, e até sorri. Mas me sinto invisível quando ele sobe as escadas e nem sequer olha para trás.
Será que sou eu que tenho algo errado? Ou ela que é boa demais?
Talvez nenhuma das duas coisas, talvez ele simplesmente goste do tipo dela que, convenhamos, é oposto ao meu.
Enquanto me escondo nesse maldita timidez, ela sorri e conquista as pessoas com a maior facilidade.
Ela é mais magra e sarada, talvez também seja mais bonita, se expressa muito bem e ainda é inteligente.
E o que me sobra? Essa barriguinha de preguiça que não consigo perder, a cara inchada pelos líquidos que retenho, o cabelo meio desgrenhado e a total inibição quando tento manter uma conversa adulta. Parece que as palavras somem da minha garganta e que eu não tenho nada para dizer.
Além de tudo tem esses óculos! Como os odeio!
Acho que só o que funciona bem em mim, são os ouvidos. Ainda bem que funcionam. Porque só assim é que ouço os discursos de Jason, tudo o que tem a dizer sobre qualquer assunto! E consigo viajar em mil histórias e lugares a cada frase ou gesto dele. Sempre parece doce e firme ao falar, e sua voz... Ah! Não deve haver mais bonita.
Gosto até do jeito meio apressado de passar pela porta, como se estivesse atrasado, ainda que chegue exatos cinco minutos antes do horário, todos os dias. E eu faço questão de chegar com pelo menos sete minutos de antecedência, só para não perder sua chegada.
Jason é o tipo de cara que toda garota sonha, e eu não sou diferente delas. Na realidade, só acho que sou mais boba, afinal, quando é que eu teria chances?
Se por ventura, um dia me desse bola, seria só para rir de mim com os outros, me julgando ingênua - e de fato o seria, porque acreditaria no sonho.
Falando nisso, já reparou no meu apelido? Até isso em mim é feio, babaca, tem jeito infantil.
"Pippa". Apelido de gorda. Por que alguém chama uma pessoa assim? Pra tirar sarro depois!
Tenho certeza de que quando nasci, meus pais não queriam um filho.
Já os de Jason, deviam querer muito, porque capricharam! Olha só para ele, alto, forte, bonito, charmoso e de uma gentileza que não dá nem pra colocar em palavras. E como se não bastasse, tinha que ser inteligente, desinibido, simpático com todo mundo e ter até os pés bem feitos! Pois é, até nisso capricharam!
Me lembro daquela confraternização onde os funcionários do escritório se reuniram num clube qualquer, e ele estava somente de chinelos, bermuda e regata. Como é que podia estar tão simples, e ainda assim atrair a atenção de todas as mulheres presentes?
Hoje resolvi que queria fazê-lo me notar. Então coloquei uma roupa um pouco mais ousada, sapatos de salto, soltei os cabelos e usei alguma maquiagem nos olhos e um batom com um tom de vermelho mais fechado. Estava me sentindo linda. Até que ele passou por mim. Não sei como foi que não tropecei e caí ali no chão, esticada, porque minhas pernas tremiam tanto que parecia que só eu sentia um terremoto.
Quando me disse "oi", meu coração deu vários pulos, meu rosto queimou e eu sorri, porque não conseguia responder absolutamente nada. Me senti uma completa idiota por estar fazendo aquele papel. Não me sentia eu mesma, nem sei usar maquiagem, para que fui inventar isso?
Notei que me olhou de canto e sorriu discretamente, mas me senti ainda pior, porque tive a certeza de que deveria ser deboche.
E agora, em plena sexta-feira à noite, estou em casa, falando sobre minhas inseguranças e temores e entupindo a fuça de sorvete de flocos, enquanto ele deve estar com a namorada, se divertindo em algum parque de diversão, ganhando algum urso de pelúcia enorme em algum jogo de pontaria.
Não vejo a hora desse fim de semana acabar.


Jenny

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
 
nota: Se o mundo parasse de girar, não seria tão emocionante. Tomar cuidado.

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
  O reencontro.
O relógio marcava pontualmente oito horas da noite.
O rapaz andava de um lado para o outro dentro daquele aeroporto, parecia ansioso, muito nervoso.
E de fato estava. Já haviam se passado cinco anos desde o último encontro.
A cada minuto que passava, olhava no relógio para ver se o vôo estava muito atrasado.
Quando os ponteiros anunciaram oito e cinco, decidiu correr atrás de qualquer informação, sua impaciência não o permitia ficar quieto no mesmo lugar.
"Não aguento mais esperar", pensava, "preciso fazer alguma coisa, vôos sempre atrasam".
Foi aí que decidiu pegar seu notebook e começar a escrever qualquer coisa, ainda que totalmente sem nexo.
As palavras saíram sem esforço algum, o texto fluía com uma facilidade incrível dentro de sua mente.
De súbito, decidiu que era hora de correr para o corredor do desembarque, por mais que a escrita lhe prendesse a atenção, era só nela que conseguia pensar.
"Cara, cinco anos! É muito tempo... Será que ela mudou? E eu, terei mudado os olhos dela?", os pensamentos o sufocavam.
Foi aí que viu Maria saindo pelo corredor, pequena e frágil, como ainda se lembrava. Nada haveria de mudar aqueles olhos cheios de alegria e aquele sorriso cheio de bondade.
Os olhos da mulher se encheram d'água, quase não conseguia conter a emoção em revê-lo.
- Que saudade, meu amor! - era só o que conseguia dizer ao abraçá-lo forte.
Decerto, essa falta que o jovem fizera nesses anos em que ficara em Portugal, haveria de ser aniquilada. Ainda teriam um mês inteiro para aproveitar tudo o que pudessem.
- Ah! Minha pequena! Quase morri de saudade desse teu abraço! - o rapaz estava visivelmente emocionado, mas as lágrimas eram contidas, afinal, não gostava de chorar na frente de outras pessoas.
Ele pegou as malas que Maria trouxera, e foram os dois até o carro que os levaria para o apartamento dele.
- Me conta tudo sobre a viagem, mãe. Quero saber de cada detalhe

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
  mil novecentos e sessenta e qualquer coisa.
Há muito não se via um sol tão forte, tão brilhante num céu tão azul e sem nuvens.
As amigas combinaram de ir a nova lanchonete, a tal Twist Burguer vinha fazendo cada vez mais sucesso.
A jukebox do local só tocava músicas animadas, pra cima. Todos os sons que faziam sucesso na época, não paravam de tocar, animando os casais, os amigos e mesmo os que estavam sozinhos.
Além disso, a aparência era muito bonita, só cores suaves como verde água, rosa e azul claro, com fotografias dos Beatles, Elvis e outros artistas.
Chegando lá, as meninas escolheram uma mesa bem próxima à pista de dança, a qual tinha sua volta toda iluminada com luzes coloridas quase nos mesmos tons das paredes. Adoravam o movimento, as pessoas dançando. Era uma atmosfera leve e gostosa de sentir.
Todas pediram sucos: de laranja, melancia, morango e limão.
Claro que, como toda garota, reparavam em todos que entravam e saíam. Mas teve um rapaz, em especial, que chamou a atenção da amiga de vestido preto com bolinhas brancas: entrou com ar seguro, sorriso no rosto, cumprimentou alguns conhecidos. Passou pela mesa das garotas, sorriu novamente, e foi até uma mesa mais ao fundo, onde estavam alguns amigos. Seu olhar era alegre e muito forte. Vestia calça jeans levemente justa nas coxas e seguia mais reta até os pés. Sua camiseta branca também não ficava folgada, pois seus músculos a preenchiam. Seus cabelos estavam bagunçados, decerto pelo uso que fizera do capacete, enquanto pilotava sua moto. Na mão direita segurava esse mesmo capacete preto e na esquerda apenas um anel prateado.
Até seu andar era firme. Qualquer um teria reparado no rapaz, mas não como a jovem fizera.
Ficou reparando no que ele iria pedir. E notou que preferia um cheeseburguer e um suco de limão, como o seu.
Voltou à conversa, mas sem deixar de prestar atenção no movimento na mesa dos rapazes.
- Que é que está olhando? Gostou dele? - perguntou a de vermelho.
- Não é isso... Só o achei... Interessante! Reparou no jeito como entrou? Parecia rei aqui dentro. - respondeu.
- Sei que não. Se quiser, posso chamá-los, o loiro ao lado dele é filho de um amigo do meu pai. - retrucou a primeira.
- Deixe de ser boba, vamos voltar ao que estávamos falando. Quando é que vamos nos organizar para terminar o trabalho de matemática? É para a próxima semana, temos que agilizar.
E conforme as amigas falavam sobre o assunto, sua cabeça parecia não conseguir desgrudar o pensamento do rapaz.

Na outra mesa, o jovem de branco comentava com seus amigos que seu namoro não estava lá essas coisas, a garota achava que ele deveria viver só para ela e mais nada. Mas para ele, o mais importante era a música. Sua vida era isso.
- Como é que eu vou viver sem aplicar minhas aulas de bateria? Me digam! Caras, vocês tem é muita sorte de namorarem meninas compreensivas.
- Eu terminei meu namoro, não aguentava mais a mesma ladainha sobre casamento todo dia. Ainda sou jovem, tenho mais o que fazer, não vou pensar em casamento agora. - disse um dos amigos.
Ao virar a cabeça para a porta, o rapaz reparou na menina de preto e bolinhas. Usava um vestido tomara-que-caia muito delicado. Para complementar, usava um colarzinho de pérolas, tão suave quanto a roupa que vestia.
Algo naquela visão o impedia de retomar o assunto, não queria sequer virar o rosto para os amigos. Podia ficar admirando aquele perfil por horas e horas.

Ela deve ter sentido aquele olhar em sua direção, porque virou suavemente, olhando meio de canto. E foi aí que ele pôde reparar em como a garota tinha belos lábios, parecia que sua boca havia sido desenhada por alguém muito perfeccionista. O pescoço era alongado e os cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo meio alto.
Não houve dúvida: de sopetão, levantou-se e foi em direção a ela.
- Sabe dançar? - disse ele, enquanto apoiava uma das mãos na mesa e a outra no encosto da cadeira dela.
- Mais ou menos... - respondeu, meio sem graça.
- Pois então, vou te ensinar!
Segurou a mão da jovem, e a levantou com rapidez, juntando seu corpo ao dela.
Alguém adivinhou o que acontecia, só pode. Depois de muito tempo que estavam ali, a primeira música romântica da noite começou a tocar.
E não é que o atrevido sabia mesmo como conduzir a garota pela pista?
Cinderella sentiria inveja daquela sintonia e daquela dança.
- Como se chama? - perguntou o rapaz.
- Eu é que deveria perguntar, já que fui raptada da minha mesa... - sorriu sem graça, olhando para o movimento que seus pés faziam.
- É que planejar não tem graça, não é? Você não teria vindo, se eu tivesse me apresentado primeiro.
- Provavelmente estaria mais pronta para uma resposta negativa, você está certo.
- Tenho que saber o que fazer para alcançar o objetivo.
O casal parou a dança. A música continuava rolando, mas para os dois, não havia mais nada.

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Local: Sorocaba, SP, Brazil

Descobrindo, aos 28 anos, que ser mulher é muito mais do que sempre imaginei. Mãe do Mateus, que me ensina tanto todos os dias sobre como ser alguém melhor e que faz o melhor que pode.

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