Sobre flores e amores
segunda-feira, 15 de junho de 2009
  Roda-gigante
Era naquela noite. Estava tudo perfeito. Lua cheia, esplendorosa lá em cima, céu estrelado e um friozinho agradável, desses que faz chegar na gente uma vontade de estar bem perto.
Ela estava linda! Nunca antes, parecera tão radiante e cheia de felicidade. Não usava quase nenhuma maquiagem, apenas um batom rosado, muito suave. Sorriu quando me viu na porta, e eu correspondi. Estava tão surpreso com a imagem dela, tão bonita, tão perfeita...
Quando me perguntou para onde iríamos, quis fazer surpresa.
Cara, acho que nunca vou me esquecer daquele olhar, aquele, que eu fiz questão de analisar, de guardar na memória. Parecia que eu havia adivinhado os pensamentos dela. "Eu adoro parques de diversão, como você adivinhou?", não adivinhei, perguntei para a melhor amiga. Mas, como resposta, apenas olhei para baixo e sorri de canto, para não deixar escapar meu segredo.
Tentei falar por várias vezes, mas quando chegava quase lá, algo me segurava. Era como se as palavras voltassem para dentro de mim, querendo se esconder.
Ela percebeu, afinal é muito esperta. Me olhava como se estivesse esperando alguma coisa.
Estava simplesmente encantado com aquele jeito dela, estava apaixonado!
Num daqueles jogos de tiro ao alvo, ganhei um urso bem grande, e quando entreguei a ela, a única coisa que consegui dizer foi um simples "Caramba...", chacoalhei a cabeça olhando para baixo e encerrei por ali.
Chegamos à roda-gigante, ambos olhamos para cima. Era uma visão extraordinária, estava tão colorida, tão iluminada! Falamos ao mesmo tempo "Vamos?". Sorrimos e entramos na fila.
Ela me abraçou. Eu gelei, tentei controlar o tremor. Me agradeceu pela noite.
Chegou a nossa vez! Foi tão bonito vê-la sentada na cabine, abraçada ao urso... Quis roubá-la, ficar com ela ao meu lado para sempre.
A vista do parque era linda, as pessoas estavam pequenas e distantes, o que foi me dando coragem.
Chegando ao topo da roda, o medo se esvaiu, me abandonou por completo. Foi aí que decidi falar.
"Eu te amo! E quero você comigo para sempre."

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sábado, 13 de junho de 2009
  As flores não nascem no inverno II
Sul do Canadá, primavera de 1984

Como era bonita a paisagem na primavera! As árvores pareciam cada vez mais vivas, o cheiro delicado das flores inundava as praças e parques e os pássaros cantavam como em nenhuma outra época do ano.
Às vezes chovia, é verdade, mas na maior parte do tempo, podia-se ver o sol brilhando e esquentando corpos e corações. Há quem diga que a primavera naquela cidadezinha, trazia consigo uma onda de paixões. E não era mesmo de se duvidar, pois em cada banco de cada uma das várias pracinhas dali, via-se casais se abraçando e sorrindo. Casais de todos os tipos, idades e raças.
Não era diferente com o casal da pequena casa verde da Rua Ronald Reagan*. Ali, a vida a três - mãe, pai e filha - era sempre calma, e podia-se dizer que o amor entre eles era infinito.
Formavam uma família como essas de comercial, feliz, sorridente, que leva a vida sossegadamente, sempre brincando e se divertindo. Era uma felicidade realmente invejável.
Num dos raros dias chuvosos daquela estação, sem ter como sair, a graciosa menina que brincava com um quebra-cabeça, levantou-se:
- Mamãe, vamos cozinhar para o papai? Faz tempo que não fazemos nada especial para ele.
- Boa idéia, querida, vamos sim! Mas o que você pretende fazer? - perguntou a mãe, interessada no que a filha dizia.
- Não sei... Alguma coisa doce, bem gostosa!
- Que tal panquecas de chocolate? Achei uma receita em um livro outro dia, parecia muito apetitosa!
- Perfeito, mamãe! Vamos! - disse a pequena, já segurando a mão da mãe e a puxando pelo corredor.
Chegando na cozinha, a moça começou a procurar o livro em uma das portas do armário ao lado da geladeira. Ao abaixar-se para olhar, sentiu uma leve tontura, mas não deu grande importância, devia ter feito um movimento muito rápido.
Enquanto isso, a garotinha já separava uma vasilha para depositar os ingredientes.
Ao acharem a receita, começaram a misturar o leite, o óleo, o chocolate e a farinha. Esta última, levantou uma nuvem que divertiu mãe e filha, sujou suas roupas e as deixou com as faces pálidas.
Na hora de fritar, a menina se manteve longe, com medo do fogo. Observava a prática de sua mãe, que virava aquela massa jogando-a no ar e fazendo-a voltar à frigideira. Quando crescesse, aprenderia a fazer igual, e seus pais e amigos adorariam suas panquecas.
O calor do fogo e a fumaça, começaram a fazer mal para a moça, seus olhos começaram a piscar lentamente, como se quisessem permanecer abertos, mas não tivessem forças para isto. Ao perceber a fraqueza que a dominava, desligou o fogão rapidamente e pediu para que sua filha chamasse seu marido.
- Querida, o que houve? O que você tem? - desesperou-se o rapaz.
- Não é nada demais, meu bem, foi só uma tontura. Me leve para o sofá, por favor. Minhas pernas não me obedecem.
Ele atendeu ao pedido de sua mulher. Estava visivelmente nervoso.
- Papai, o que a mamãe tem? - a garota tinha lágrimas nos olhos, como se pressentisse algo ruim.
- Não é nada, meu amor, foi só uma tontura. Deve ter sido o calor do fogo... Não fique triste, em alguns minutos ela estará bem! Sente-se no meu colo, vamos ficar aqui cuidando para que passe logo.
A menina se sentou no colo do pai e o abraçou, numa tentativa de se proteger de qualquer mal que pudesse ocorrer.
Mal se passaram dez minutos e a crise realmente tinha acabado, mas as panquecas foram deixadas de lado.
Pouco antes de dormir, já na cama, o rapaz virou-se para a esposa:
- Querida, você sabe o que foi aquilo hoje, não sabe? Temos que voltar ao médico, deve haver algo que possa ser feito! - tinha a voz trêmula e os olhos úmidos.
- Não se preocupe, querido, já estou bem. Olhe só para mim, pareço doente?
O marido olhou fixamente para ela:
- Você é tão mais bonita que qualquer outra mulher, Megan! Não imagina o quanto te amo. Não quero e não posso te perder, não saberia o que fazer sem você! - caiu num pranto cheio de angústia, medo e dor.
Ao ver o estado do marido, Megan o abraçou dizendo que tudo ficaria bem.
A filha, que ouviu a conversa do outro lado da porta, correu para seu quarto, agarrou o travesseiro e chorou silenciosamente.
O dia seguinte amanheceu silencioso, parado. Os pássaros pareciam sentir e respeitar aquela dor e, por isso, calaram-se. Nem mesmo o vento foi capaz de soprar as folhas das árvores.
A casinha verde ficou um pouco mais vazia.

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quinta-feira, 11 de junho de 2009
  As flores não nascem no inverno I
Sul do Canadá, inverno de 1985.

Fazia
muito frio, afinal, era inverno.
Ao olhar pela janela, podia-se ver a neve caindo suavemente. O chão possuía um cobertor branco, que aos olhos do observador, parecia muito pouco aconchegante. As árvores já não tinham mais folhas, os pássaros se escondiam e as crianças se divertiam com seus bonecos de neve.
Decerto, era a estação mais agradável entre as quatro, e aquela paisagem podia ser comparada a um sonho. Fazia tempo, não se via um ambiente tão claro e cheio de alegria.
Ele resolveu sair de casa.
No caminho para o mercado, havia pessoas e máquinas limpando as ruas e entradas das casas.
Ao passar por uma praça, que outrora tinha muitas flores e casais, observou uma menina que segurava uma bola. Tinha uns dez anos de idade. Usava um gorrinho vermelho, fazendo um belo contraste com seus cabelo longos e negros, e sua pele branca. Algumas sardas logo abaixo dos olhos verdes, a deixavam com ar de criança travessa. Sorriu para ele. Seus dentes eram levemente separados e a boca era vermelha.
Sorriu de volta, como se quisesse dizer a menina a sensação que ela lhe causara.
A pequena continuou a brincar, e o rapaz seguiu seu caminho.
Chegando ao mercado, notou que não sabia o que queria. Lembrou-se da garotinha. Pensou em várias coisas que poderia dar a ela: talvez gostasse de uma boneca, ou talvez achasse muito infantil. Então, quis levar-lhe uma bola, mas lembrou-se da que ela segurava na praça. Talvez um carrinho fosse uma boa opção, mas qualquer um percebia que não era brinquedo de menina.
Após muito pensar, chegou a conclusão de que levaria um cachorrinho de pelúcia. Era branco, tinha orelhas compridas e segurava um coração vermelho. Disso sim, ela gostaria!
Comprou também uma caixa com algumas gravuras delicadas, e logo que pagou os produtos, já embalou o presente.
Na volta para casa, apressou o passo, pois estava ansioso pela reação da menina.
Ao passar novamente pela pracinha, notou que a garota não estava mais ali. O jeito era esperar que a encontrasse novamente.
Continuou seu caminho, com a caixinha debaixo do braço esquerdo, e a mão direita no bolso do casaco.
Ao entrar em casa, fazendo algum barulho com a porta, ouviu uma vozinha suave:
- Papai, até que enfim você chegou! Estou morta de fome, vamos fazer o jantar?
Ele sorriu abertamente, e olhou para ela, apaixonado. Aqueles olhinhos verdes o fitavam fixamente, esperando uma resposta.
- Vamos, querida! Mas antes, olhe o que te trouxe - disse o rapaz, enquanto entregava o presente.
- É lindo, papai! - A menina estava visivelmente emocionada com o agrado - É menino ou menina?
- Você é quem decide, meu amor. Ainda não descobri!
- Então vai ser menina, vou chamá-la de Megan.
Fez-se um silêncio perceptivelmente dolorido, e os olhos de ambos se encheram de lágrimas.
Tentando conter as emoções, ele disse:
- É um lindo nome, querida. Mas agora, vamos preparar o jantar, também estou com fome. Leve Meg conosco, ela pode observar.
E foram para a cozinha, fazer panquecas.

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Descobrindo, aos 28 anos, que ser mulher é muito mais do que sempre imaginei. Mãe do Mateus, que me ensina tanto todos os dias sobre como ser alguém melhor e que faz o melhor que pode.

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