Você já sentiu como se o tempo parasse, como se só você e ele pudessem se mover?E quando isso aconteceu, já quis que ele viesse até você e te dissesse que foi tudo um enorme engano, que largou daquela lagartixa da namorada, e descobriu que você é o grande amor da vida dele?
Pois é. Me sinto assim todos os dias quando chego naquele escritório.
Jason passa por mim, diz bom dia, e até sorri. Mas me sinto invisível quando ele sobe as escadas e nem sequer olha para trás.
Será que sou eu que tenho algo errado? Ou ela que é boa demais?
Talvez nenhuma das duas coisas, talvez ele simplesmente goste do tipo dela que, convenhamos, é oposto ao meu.
Enquanto me escondo nesse maldita timidez, ela sorri e conquista as pessoas com a maior facilidade.
Ela é mais magra e sarada, talvez também seja mais bonita, se expressa muito bem e ainda é inteligente.
E o que me sobra? Essa barriguinha de preguiça que não consigo perder, a cara inchada pelos líquidos que retenho, o cabelo meio desgrenhado e a total inibição quando tento manter uma conversa adulta. Parece que as palavras somem da minha garganta e que eu não tenho nada para dizer.
Além de tudo tem esses óculos! Como os odeio!
Acho que só o que funciona bem em mim, são os ouvidos. Ainda bem que funcionam. Porque só assim é que ouço os discursos de Jason, tudo o que tem a dizer sobre qualquer assunto! E consigo viajar em mil histórias e lugares a cada frase ou gesto dele. Sempre parece doce e firme ao falar, e sua voz... Ah! Não deve haver mais bonita.
Gosto até do jeito meio apressado de passar pela porta, como se estivesse atrasado, ainda que chegue exatos cinco minutos antes do horário, todos os dias. E eu faço questão de chegar com pelo menos sete minutos de antecedência, só para não perder sua chegada.
Jason é o tipo de cara que toda garota sonha, e eu não sou diferente delas. Na realidade, só acho que sou mais boba, afinal, quando é que eu teria chances?
Se por ventura, um dia me desse bola, seria só para rir de mim com os outros, me julgando ingênua - e de fato o seria, porque acreditaria no sonho.
Falando nisso, já reparou no meu apelido? Até isso em mim é feio, babaca, tem jeito infantil.
"Pippa". Apelido de gorda. Por que alguém chama uma pessoa assim? Pra tirar sarro depois!
Tenho certeza de que quando nasci, meus pais não queriam um filho.
Já os de Jason, deviam querer muito, porque capricharam! Olha só para ele, alto, forte, bonito, charmoso e de uma gentileza que não dá nem pra colocar em palavras. E como se não bastasse, tinha que ser inteligente, desinibido, simpático com todo mundo e ter até os pés bem feitos! Pois é, até nisso capricharam!
Me lembro daquela confraternização onde os funcionários do escritório se reuniram num clube qualquer, e ele estava somente de chinelos, bermuda e regata. Como é que podia estar tão simples, e ainda assim atrair a atenção de todas as mulheres presentes?
Hoje resolvi que queria fazê-lo me notar. Então coloquei uma roupa um pouco mais ousada, sapatos de salto, soltei os cabelos e usei alguma maquiagem nos olhos e um batom com um tom de vermelho mais fechado. Estava me sentindo linda. Até que ele passou por mim. Não sei como foi que não tropecei e caí ali no chão, esticada, porque minhas pernas tremiam tanto que parecia que só eu sentia um terremoto.
Quando me disse "oi", meu coração deu vários pulos, meu rosto queimou e eu sorri, porque não conseguia responder absolutamente nada. Me senti uma completa idiota por estar fazendo aquele papel. Não me sentia eu mesma, nem sei usar maquiagem, para que fui inventar isso?
Notei que me olhou de canto e sorriu discretamente, mas me senti ainda pior, porque tive a certeza de que deveria ser deboche.
E agora, em plena sexta-feira à noite, estou em casa, falando sobre minhas inseguranças e temores e entupindo a fuça de sorvete de flocos, enquanto ele deve estar com a namorada, se divertindo em algum parque de diversão, ganhando algum urso de pelúcia enorme em algum jogo de pontaria.
Não vejo a hora desse fim de semana acabar.
Jenny
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