Sobre flores e amores
sexta-feira, 18 de junho de 2010
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Até os 25, estudei tanto como nunca achei que fosse conseguir. Minha meta era concluir a pós-graduação ainda nova, conseguir um bom emprego e só então pensar em me casar e ter filhos.

É claro que a gente não planeja a vida, porque destino é algo sem controle.

Conclui boa parte dos meus sonhos. Sou formada em Administração de Empresas e pós-graduada em Finanças. Consegui um emprego bacana, onde comecei num cargo menor até chegar onde estou hoje.

Ganho algumas milhas por mês e consigo, além de pagar todas as minhas contas, fazer vários planos.

Comprei meu apartamento e meu carro, e também fiz algumas viagens incríveis.

O problema de toda essa dedicação à realização profissional, é que acabei me esquecendo um pouco de mim e do que me faltava.

Quando pisei naquela empresa pela primeira vez, senti algo muito estranho. Era como se alguma coisa me dissesse ao pé do ouvido que dali sairia a maior mudança da minha vida.

Dei muita importância àquela sensação nova e tão diferente de tudo o que havia sentido até então.

Poucos dias se passaram até que me acostumasse com todo o pessoal.

Como era meu primeiro trabalho sério e só tinha o conhecimento teórico, adquirido na faculdade, precisei de ajuda no início.

Tinha apenas 20 anos e comecei como estagiária, e quem me treinou durante as duas primeiras semanas foi o supervisor do meu setor.

Era apenas cinco anos mais velho, pouco mais alto que eu, ombros largos e braços fortes. Seus cabelos eram cacheados e quase louros. Seus olhos cintilavam e seu sorriso fazia qualquer estrela morrer de inveja daquela luz. Usava óculos, de vez em quando, e raramente surgia sem terno, quando na verdade, era a camiseta mais simples que o deixava mais bonito. Se bem que nada nele era feio. Até mesmo sua voz era agradável, e eu poderia ouví-lo falar por horas, sem me cansar.

Era incrível: algo nele fazia as maçãs do meu rosto ferverem quando me olhava, e quase não conseguia encará-lo, porque me dava a sensação de que conseguiria desvendar tudo em mim, até os defeitos que eu mais tentava esconder.

Toda vez que o via passando, meu coração saltava tanto no peito, que fazia cada pedacinho de mim, tremer descontroladamente.

Aquele homem quase perfeito tinha um único defeito: namorava.

Vi a menina uma ou duas vezes, e ela fez questão de mostrar que não havia gostado de mim. Mas ainda assim, consegui notar como era bonita.

Por alguns instantes, quis ser aquela moça magrinha, de cabelos cortados pouco acima dos ombros.

Era claro que se gostavam, e não era pouco.

Senti uma leve pontada no peito quando os vi juntos.

Passado algum tempo, fomos nos aproximando um pouco. Nos víamos todos os dias, afinal. Era natural que nos tornássemos amigos.

Vez ou outra fazia algum elogio ou brincadeira que me desconcertava.

Um dia, estávamos os dois na máquina de xérox, quando de repente fui surpreendida com um beijo. Não qualquer beijo. Foi "O" beijo.

E ainda consigo me lembrar de cada sensação que passou pelo meu corpo naquele instante.

Foi o melhor abraço que já ganhei e o beijo foi o mais intenso da minha vida.

As coisas foram caminhando assim, às escondidas, porque ambos sabíamos das condições em que nos encontrávamos, e dos riscos que corríamos, não só pela namorada dele, como também pelo ambiente de trabalho.

Nos víamos à noite, após o expediente, e ficávamos juntos até de madrugada. Eram as melhores noites da minha vida. Cada Segundo ao lado daquele cara lindo, inteligente e tão carinhoso, se fazia o melhor de todos os que vivi.

Me apaixonei pela última pessoa que deveria.

Era muito bom quando me dizia que gostava de mim e que estava apaixonado, porque soava muito sincero.

Nunca vou conseguir me esquecer da noite em que, com os vidros do carro embaçados pela nossa respiração, ele me disse que a partir daquela noite, as nossas almas estariam sempre ligadas. Sabia de algum jeito, que era a mais pura verdade.

O tempo foi passando e os dias faziam com que me apaixonasse mais e mais.

Nos falávamos por telefone todos os dias, inclusive quando nos víamos.

Estava viciada naquela atmosfera de aventura, de loucura e de paixão.

Fui cercada por um sentimento que até então não conhecia.

Cheguei num ponto em que nada mais fazia sentido sem ele, porque era só na nossa aventura que eu conseguia pensar, só tinha cabeça para aquele ladrão de corações.

Quando me dei conta de que meu mundo girava em torno disso, resolvi tomar uma atitude. Decidi que não havia nascido para as metades. Se quisesse ser meu, que fosse por inteiro, e se não quisesse... Bom, não seria mesmo o único na minha vida.

O problema é que as coisas não são fáceis como parecem.

Por várias semanas me torturei com aquela decisão. Olhava para ele e sequer poderia falar tudo o que vinha carregando comigo.

Depois a dor foi se acomodando, mas por diversas vezes pensei se uma única fatia do pudim de leite, não seria melhor do que não ter nem mesmo a calda.

Ele começou a não me atender quando telefonava, deixou de olhar para mim quando estávamos no mesmo ambiente e nem brincava mais comigo como antes. Fugia de mim.

Por mais que me sentisse completamente usada com essa reação, sabia que no fundo, tudo aquilo não havia morrido para ele também.

E ficamos por tanto tempo nessa relação platônica, que acabei me esquecendo das ilusões que vinha nutrindo.

Confesso que até hoje me emociono ao lembrar disso tudo.

Acho que os momentos vividos nunca são apagados de dentro da gente.

Conforme vou falando, consigo sentir tudo de novo.

Ainda hoje me lembro de cada arrepio que ele me causou.

Acabei namorando sério, fiquei noiva e todo aquele sofrimento valeu à pena, porque sem ele, não teria a metade da maturidade que tive para enfrentar essa relação.

Aí, então, aos 30, me casei e tive filhos. São três. Lucky, Nicholas e Chiara.

Foram os bebês mais lindos que já vi.

E foram crescendo cada dia mais bonitos, saudáveis e inteligentes.

Os três têm os melhores caráteres que já vi.

Agora tenho 50 anos.

Meio século de vida, com algumas rugas que encaro com naturalidade, pois são a marca de tudo o que vivi.

Continuo na mesma empresa, trabalhando com o mesmo cara e aprendendo com ele cada dia mais, pois além de um grande profissional, é um grande homem. E um grandíssimo pai e marido.

Acho que encontrei o amor da minha vida, e foi naquele mesmo lugar onde um passarinho me contou que tudo mudaria.

São vinte anos que eu não trocaria por nada. Alcancei a minha felicidade.

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Descobrindo, aos 28 anos, que ser mulher é muito mais do que sempre imaginei. Mãe do Mateus, que me ensina tanto todos os dias sobre como ser alguém melhor e que faz o melhor que pode.

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