Sobre flores e amores
domingo, 30 de maio de 2010
 
25 anos.
Mal acredito que cheguei até aqui.
Aos 13, imaginava que com 20 anos já estaria casada, quase formada, e prestes a ser mãe.
Confesso até que, ao final da adolescência, lá pelos 17 ou 18 anos, era louca por vestidos de noiva e às vezes entrava em alguma loja para provar alguns.
Mas o tempo foi passando, e a minha vida também. Meus planos não foram concretizados. Na verdade, estou muito longe de tudo o que imaginava. Ainda hoje, nem se quer tenho um namorado, que dirá um marido e filhos.
Namorei pouco na vida, levei todas as minhas paixões a sério, mas acho que não me encaravam da mesma forma.
Foi quando eu estava quase desistindo de tudo aquilo, que surgiu um novo amor...
Era verão, época de férias, e estava com toda a família numa praia qualquer, cheia de gente, de areia e água - tudo o que não combina muito comigo.
Já que havia acordado antes do sol aparecer por completo no céu, resolvi sair um pouco, olhar tudo antes que as pessoas lotassem cada centímetro daquele lugar.
Só não esperava ser atropelada por uma bicicleta em alta velocidade!
Foi uma cena tão ridícula e rápida, que sequer tive tempo de sentir vergonha ou raiva, até porque mal consegui entender o que havia acontecido.
Mas se o atropelamento era inesperado, o pseudo assassino era ainda mais.
Como é que alguém conseguia ser bonito daquele jeito?
Tinha o queixo quadrado, olhos castanhos cheios de longos cílios e as sobrancelhas retas definiam o rosto verdadeiramente masculino. Enquanto me pedia mil desculpas, notei que tinha covinhas muito charmosas.
Depois do incidente, achei melhor voltar para o apartamento onde minha família e eu nos alojamos.
No caminho, parei na padaria para comer alguma coisa por ali mesmo.
Quando cheguei na portaria do prédio, minha mãe me olhou assombrada, saiu correndo em minha direção e perguntou se haviam me assaltado.
Expliquei rapidamente a situação e fui para o quarto, descansar um pouco e me reconstituir do susto.
Decidi que não sairia mais dali até o final do dia. Mas se soubesse que não tinha almoço, não teria me iludido dessa forma.
Encontrei meus pais e irmãos num restaurante à beira-mar, por volta de uma hora da tarde.
Comi um filé de peixe e já estava voltando ao apartamento, quando ouvi uma voz me chamando. Não disse meu nome, mas senti que era comigo.
- Moça! Como vai? Lembra-se de mim?
- Claro que me lembro. - respondi com a expressão séria - Você é o ciclista que quase me matou enforcada nas correntes de sua bicicleta hoje cedo, não é?
- Sim, sou eu mesmo... - disse, sem graça, com um sorriso meio bobo que evidenciava aquele furinhos fofos em seu rosto - Olha, fiquei meio chateado pela forma de nos encontrarmos e gostaria de tirar a má impressão. Seria muita ousadia se te chamasse para dar um volta aqui pela praia esta noite?
Fiquei meio sem reação, afinal, era só um desconhecido bonito que me atropelara mais cedo. Mas acabei aceitando.
Foi pontual. Às sete e meia estava de pé, do lado de fora da portaria do prédio.
Vestia uma bermuda branca, sandálias de couro e uma camiseta muito simples, de tecido fino e cor cinza. Estava de fato muito bonito.
Eu também não me preocupei muito com as roupas, coloquei o primeiro vestido floral que encontrei e um par de sandálias rasteiras. Também fiz um rabo-de-cavalo para não me preocupar com o cabelo voando no rosto.
- Você está linda! - disse ele.
- Obrigada... Você também está muito bem.
- Sabe, ainda estou meio sem graça com o que aconteceu. Será que você realmente me desculpou?
- Claro que sim, imagina. Só ficaram uns arranhões... A parte interessante é que eu não vou me esquecer de você enquanto todas essas marcas não sumirem! - ri, discretamente.
- Vou te contar uma coisa, então: mesmo sem marcas, não te esqueci o dia todo. Aliás, confesso que fiquei muito feliz quando te vi pronta para atravessar a avenida.
- Ah, é?
- É sim. Não é todo dia que eu vejo uma garota branquinha assim na praia.
- Quer dizer que ser branquela é algo que te excita?
- Não, não foi isso que eu quis dizer! - começou a ficar mais sem jeito do que antes, e as palavras se enrolavam em sua boca - Não que não seja bonito, mas é que é muito difícil encontrar alguém de pele tão clarinha na praia, se é que você me entende...
- Claro que entendo, não precisa ficar nervoso - ri, um pouco mais à vontade - É que o sol e eu não formamos uma dupla de muito sucesso.
Ele riu, charmoso, e eu me prendi naquele sorriso.
Ainda nem sabíamos o nome um do outro, e já nos sentíamos tão ligados, tão próximos.
Ficamos nos olhando por alguns segundos, até que ouvi um barulho que há anos não ouvia: era o carrinho do sorveteiro.
- Olha lá! - gritei - Vamos comprar sorvete?
- Vamos apostar quem chega primeiro!
- Quem perder paga o sorvete?
- Combinado.
Parecíamos duas crianças correndo atrás do carrinho, mas foi algo que, por alguma razão, me trouxe uma grande sensação de liberdade.
É claro que ele chegou primeiro, mas foi cavalheiro o suficiente para pagar os sorvetes.
Pediu um de menta com chocolate e me perguntou qual sabor eu preferia. Acabei pegando o mesmo.
- Que delícia! Nunca tinha experimentado. Lá na minha cidade não deve ter... Não tem quase nada mesmo.
- É a especialidade desse cara. Por aqui, acho que só ele é que faz.
Passamos a noite toda conversando banalidades, também falamos de política e cinema, comentamos sobre futebol e, finalmente, nos apresentamos.
Mal vi a hora passar. Quando olhei no relógio já era quase meia-noite.
- Tenho que ir. - afirmei - Amanhã tenho um longo dia de viagem.
- Mas vai voltar, tão cedo?
- Pois é... Tenho que voltar ao trabalho, muita coisa me espera lá em casa.
- Qualquer hora dessas, vou te visitar. Posso?
- Pode. - respondi, mas duvidando que fosse realmente.
- Me passa seu telefone? Chegando lá, te ligo.
Passei meu número, achando que nunca mais o veria, que seria só um caso platônico e passageiro na minha vida solitária.
No dia seguinte, arrumei minhas coisas e, chegando ao térreo, o porteiro veio gritando, com algo nas mãos.
Era um rosa, junto com um bilhete que dizia "te vejo na próxima semana".
Não levei muito a sério, depois de dois dias, acabei até me esquecendo do fato.

No final de semana seguinte, meu telefone tocou.
Quando atendi, reconheci a voz do outro lado:
- Eu disse que viria te ver, não foi? Agora só me falta o endereço.
Fiquei pasma. Não conseguia pronunciar uma só palavra, e um sorriso besta ficou estampado no meu rosto.
- Você está aí? - insistia a voz.
- Estou, me desculpe! Fiquei sem reação, não esperava que viesse.
- Mas eu disse que viria.
- Sim, mas... Onde é que você está?
Me explicou mais ou menos onde estava e logo imaginei que fosse o parque, próximo à avenida principal da cidade.
Fui ao seu encontro.
- Você está ainda mais bonita do que na última vez que nos encontramos.
- E você, mais galanteador.
- Estou falando sério, está linda mesmo!
- Ora, obrigada. - respondi meio sem graça.
Ficamos mudos por alguns instantes, apenas contemplando o momento.
Ele me seguiu até minha casa, deixou o carro lá e entrou no meu, para que pudéssemos ir juntos a algum lugar.
Passamos uma tarde incrível, visitamos vários pontos turísticos da cidade e, ao anoitecer, resolvemos jantar.
Paramos em um restaurante japonês, comemos alguns sushis, mas decidimos que o ideal seria um cachorro-quente.
Seguimos para a barraquinha de lanches que ficava perto de casa. Comemos e ficamos ali sentados, conversando.
Uma hora depois, ele se levantou e disse:
- Devo ir agora, ainda preciso de um hotel! Me esqueci desse detalhe quando cheguei.
- Você não vai ficar em nenhum hotel, seria uma ofensa! Vamos. Você é meu hóspede.
Arrumei um colchão e cobertas para que ficasse na sala, mas fiquei junto a ele, vendo filmes, até pegarmos no sono.
Ao acordar, no dia seguinte, me deparei com um café da manhã lindo, cheio de coisas gostosas.
- Calma aí, eu é que deveria te servir assim! - disse eu, com um leve sorriso.
- Você me hospedou, é meu dever agradecer.
Quando olhei para aquele sorriso, para aquelas covinhas e para aqueles olhos tão bonitos, não resisti. O beijei.
Passamos o resto do final de semana como um casal de namorados.
Mas como tudo o que é bom acaba cedo, logo deu a hora de voltar. Afinal, Ele também tinha sua vida lá na praia, tinha coisas a fazer.
E então, alguns meses se passaram, já estamos no inverno, e não o vi mais.
Não sei o que aconteceu.
Mas assim como as cicatrizes daquele atropelamento, as lembranças que tenho daqueles momentos tão livres e tão inocentes que passamos juntos, ainda estão todas aqui comigo, carregando uma história que poderia ter sido, mas que não foi.
Às vezes me pergunto se deveria ter ido atrás dele, ou se deveria ao menos ter ligado.
Talvez ele tenha pensado o mesmo.
Mas nenhum de nós fez nada, deixamos ficar só na memória.

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Descobrindo, aos 28 anos, que ser mulher é muito mais do que sempre imaginei. Mãe do Mateus, que me ensina tanto todos os dias sobre como ser alguém melhor e que faz o melhor que pode.

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