Pudim de leite
(Toda história merece uma repetição em algum momento)
- Amor, você já parou para pensar no pudim de leite? - disse ela, enquanto fazia a calda de açúcar - Ele começa no açúcar, bem doce, e acaba na parte macia e branca, que serve de base. Se parece um pouco com a gente! - sorria.- Como assim? Acho que não entendi o que você quer dizer.
- Lembra do começo, quando te conheci, e você namorava aquela sem sal da Tata? Aquela loirinha sem graça, sabe? - o ciúme falou alto, e sua expressão de desdém a entregava.
- Lembro, claro. - ele sorria pela insegurança demonstrada.
- Então... Se você analisar tudo pelo que passamos, você vai me entender - o açúcar começava a derreter na assadeira.
- Ainda não entendi.
- Você me cozinhava em banho-maria, porque sabia que era... Olha, vou colocar isto de uma maneira muito ultrapassada, não ria. Você sabia que era meu "doce favorito" - ela fazia um sinal indicando as aspas e sorria envergonhada. - E no começo nós brigávamos tanto! Você se lembra? Acho que implicava com você, só para ter algo a dizer. Mas você sabia que eu não conseguia deixar de te querer, simplesmente. Enquanto não terminava com a Tata, também não me deixava livre. Sempre rodeava, sorria de longe, como se fosse só para provocar. E acho que essa foi a fase da calda de açúcar: doce, mas difícil de passar por ela... Demora muito!
Ele ria da comparação, jamais imaginou uma relação sendo comparada a um pudim.
- Ah!, como você é linda! Adoro esse seu jeito de expor as coisas, sabia?
Ela ficou ligeiramente ruborizada, mas deu um sorriso tímido e continuou a comparação:
- Bom, aí vem a fase da massa, que começa sem firmeza alguma, e só vai ficando mais resistente com o tempo de cozimento. E me lembra um pouco as vezes em que você me pediu abrigo quando terminou de vez com ela. Eu sabia que era só charme, só para me fazer ciúme. E adorava aquilo! Me fazia sentir querida e, consequentemente, mais ligada a você, mais parte da sua vida. Acho que conseguimos construir algo firme, regado de bastante doce, não concorda?
- Concordo, mas pudim de leite condensado não é o que eu chamaria de firme.
- Ele não é duro, mas é firme. Tem uma diferença entre as duas coisas. Coisas duras não mudam, ficam sempre iguais. É como um bolo, que é todo uniforme. Mas olha, até as cores do pudim são diferentes! Formam uma espécie de arco-íris em tons castanhos! - disse ela, enquanto retirava o doce da assadeira - A gente sempre muda, mas é sempre bom! Como esse pudim! - sorria abertamente, como se acabasse de dizer algo incrível. E disse.
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