-Fale comigo, - pedia - diga qualquer palavra. Mas por favor, não fique em silêncio. Isso está me sufocando. -Não posso, meus pensamentos engoliram as palavras impiedosamente - respondeu com ar sério, quase indiferente. -Certo, então ficaremos ambos sentados, olhando para o nada, procurando coisa alguma, até que você resolva me dizer o que está pensando? -Quer mesmo que eu diga o que estou pensando? - desafiou - Quer de verdade que eu fale como me sinto com tudo isso que aconteceu? -Só quero saber o que fazer para te ajudar. -Pois bem, então ouça: tenho raiva de você, como nunca tive de alguém. Teu par de olhos verdes e teu olhar doce, eles quase me sufocam, porque não consigo fugir deles. É como se algo dentro deles me prendesse contra a minha vontade, e me segurasse ali. Penso nisso todas as horas dos meus dias. E tua boca... Sempre a imagino colada na minha, sempre tão macia e convidativa. Na minha mente teus lábios estão sempre quentes e suaves. Esses teus cabelos amarelos também me irritam, porque sempre me dá vontade de tê-los entre meus dedos, para que eu possa acariciá-los. Odeio a imagem de você dormindo calmo, quase como um anjo bom que me traz paz. Teu abraço é o que mais me incomoda, porque gosto de me sentir presa em teus braços. É como se fossem feitos para me esquentar, me proteger. O mundo sempre para quando você me abraça. Está vendo todas essas cores da cidade? Olhe pela janela!- ambos olharam para o céu azul e as construções imponentes da cidade grande- São fortes, quentes e bonitas. Mas deixam de existir quando estamos juntos, porque para mim, nessas horas, só existimos nós dois. Também não gosto de sentir tua falta, é como se meus órgãos fossem arrancados e um vazio ou uma escuridão pudessem tomar conta de tudo dentro de mim. Meu rosto arde e meu peito dói só de te imaginar nos braços de outras, beijando outras bocas que não a minha ou de pensar no teu corpo sobre outros corpos. Fez-se um silêncio que logo foi quebrado: -Não gostou do que ouviu, não foi? -Na verdade, só não sei o que pensar. -Não pense que vou te cobrar retribuição algum dia, não posso. -Sei disso. Mas preciso saber como agir daqui pra frente. -Só te peço que não me engane. A verdade pode doer, mas ao menos poderá me nortear. Será mais fácil saber o que fazer - desabafou, levantando-se e indo em direção à porta. Saiu sentindo-se maior do que nunca.
Descobrindo, aos 28 anos, que ser mulher é muito mais do que sempre imaginei.
Mãe do Mateus, que me ensina tanto todos os dias sobre como ser alguém melhor e que faz o melhor que pode.